03 março, 2011

Bahia aí vou eu!


Toda aquela febre de ansiedade, paralisa meus sentidos, paralisa meus pensamentos, mas não paralisa meu medo e nem a nostalgia (que por acaso era o que devia ser paralisado).
A alegria e a tristeza andam sempre juntos, pois uma mascara a outra, geralmente a alegria quem mascara a tristeza. mas o que me toma nesse momento não é tristeza, mas sim um sentimento indefinido.
Olhando para um bilhete aéreo com destino a Salvador, em pleno carnaval, não consigo sentir toda a felicidade que normalmente deveria sentir, quando me pergunto o porque a resposta não vem da cabeça, não vem da lucidez.
Barra do Mendes
A resposta ecoa no meu coração com toda minha insanidade e o insano desejo de ver naquela cidade o rosto mais belo, o sorriso mais belo e o amor mais puro. Ponto chegou a infernal lucidez a me dizer que é impossível chegar e encontrar aquele sorriso, então volto a realidade e mesmo assim não estou plenamente feliz.
Volto a fazer a mesma pergunta e a resposta vem da infeliz lucidez... o medo, medo de chegar e ver toda minha esperança de longas datas ser cortada a miúdos, medo de ver que a semente plantada no carnaval passado, por falta de irrigação não tenha brotado nenhum galho.
Mas tirando essas perguntas insanas e lógicas... estou feliz sim, pois mais um ano seguido consigo participar da época mais alegre na minha terra querida, posso ver os sorrisos nos rostos das pessoas que amo e posso matar aquela velha saudade repetida ano a ano, dose por dose.
Vamos beber mais uma dose de saudade!

Bahia aí vou eu!

25 fevereiro, 2011

Me chamou a atenção


Hoje duas cenas me chamaram a atenção, aliás, me fizeram pensar e repensar sobre a vida. Nem sei direito o que passou na minha cabeça, só sei que essas cenas mexeram comigo, vi ali os extremos da vida.
Comecei um dia como outro qualquer, estava a caminho do trabalho, dentro do ônibus, quando ouvi o motorista, dizer “desce do ônibus agora, vá pegar outro na avenida” e a frase foi repetida por três vezes, até que eu olhei com quem ele falava.
Era um menino com no máximo 8 anos de idade. O menino desceu do ônibus e foi então esse momento que captou minha atenção.
Quando olhei pelo espelho, ele estava cabisbaixo encostado na calçada, tinha uma feição de um menino que precisava de atenção, segurava uma miniatura de carrinho na mão.
Essa é uma cena corriqueira em grandes cidades, pivetes espalhados pelas esquinas, e quem me vissem assim, diriam “deixa de ser besta é só um pivete”, mas esta cena me comoveu de tal maneira que comecei o dia com lágrimas nos olhos ao ver mais este filho do sistema, desse sistema falho que nos rege.
Mais tarde, bem mais tarde ao retornar do trabalho encontro uma velhinha, corcunda, tão curvada que mal dava pra ver seu rosto, andando com o suporte de uma bengala. Ela carregava sacolas de mercado e se deliciava com um picolé de chocolate.
Me comoveu ver uma senhora com tal idade fazendo compras e pegando ônibus sozinha, fiquei imaginando se esta teria uma família. Se sim, onde estavam que permitiam ela andar só e se não, o porquê?
Mas o que me chamou mesmo a atenção foi vê-la assim tão velhinha, tão sozinha e ao mesmo tempo curtindo se saboreando com aquele sorvete.
Pode ser coisa pouco ou até mesmo bobagem, mas o fato é que sinto meu coração doer quando vejo essas pessoas indefesas estarem na rua, tão vulneráveis a maldade humana.
Resolvi então escrever para assim eternizar esse meu coração mole, e espero nunca passar despercebida por essas pessoas, nunca deixar de sentir o que senti hoje, porque se isso um dia acontecer não serei mais eu e deixarei de ser Humana. 

Gisele Leite 25/02/11

20 fevereiro, 2011

100 sentido


Tenho trilhado meu caminho em estradas turbulentas, volta e meia fico só e isso não é culpa de ninguém. 
A cada passo que dou, passo uma borracha nas pegadas, assim fica difícil de me seguirem, então porque reclamar da solidão que me invade em momentos como esse?
Sei lá se sempre fui assim, o fato é que amo minha vida sofrendo, chorando, sorrindo ou cantando vou seguindo aí.
Um dia sei que vou parar, firmar o pé no chão e deixar de ser tantas vezes cruel comigo mesma, mas esse momento ainda não é agora. Pode ser amanhã, daqui  um ano ou no fim da vida.
Sinto-me a cada dia como um bicho diferente do reino animal, às vezes tartaruga que se esconde dentro do casco quando avista uma paixão, outras um pavão que quer se aparecer quando toma uma cerveja em volta de amigos.
Na verdade o animal que mais vive em mim é o camaleão que se camufla para se esconder das predadoras dores, do corpo, da alma, do coração, afinal para que chorar se posso fingir um sorrirso.
Mas no final das contas, quando olho no espelho quem está lá, sou eu mesma, sem casco, sem penas e sem pele de réptil, sou eu assistindo todo o filme da minha vida até aqui, e perguntando – até quando? – até quando ficarei feliz só com a felicidade dos outros?
Adoraria um dia ficar feliz, com minha própria felicidade.

07 fevereiro, 2011

Falta inspiração


Há um tempo não escrevo nada por aqui, parece que meu instinto poético deu uma fugida, outro dia até me passou várias coisas interessantes na cabeça, mas não estava com saco para escrever e assim as palavras fugiram da mente.
Mas não há nada melhor que um sentimento de esperança de que "tudo vai dar pé" e assim surge à necessidade de escrever um pouco mais sobre este momento, portanto não chamo isso de inspiração.
Tenho andado distraído, impaciente e indeciso... ops! Não era essa a frase, tenho andado pensando bastante nas coisas que realmente são necessárias para minha sobrevivência emocional, assim como nas pessoas que também são indispensáveis para esta sobrevivência. Com todos esses pensamentos concluí, que os nossos ideais tem o dom de mudar por si só.
O que ontem para mim não podia faltar, hoje não me faz falta, o que foi de suma importância hoje já não é mais.
Alguns dos meus ideais mudaram, outros nem tanto.
Não mudo nada em mim porque é o jeito ideal para os outros, sou o que sou e se é pra me amar que seja assim - me aceite assim - sempre falo isso para a família e amigos, pois essa é minha essência.
Não tente me impor uma ideologia, já tenho e vivo a minha, ela é minha lei "virar o mundo, amar independente da dor que possa causar, morrer de paixão pela vida, aprender com os erros, fortalecer com as quedas e ser eu mesma acima de qualquer aprovação".


Vou aguardar um momento de inspiração, sem preguiça para postar novas palavras ao vento.

17 dezembro, 2010

Aquela Janela

Seria aquela, a janela da alma ou seria ela apenas o reflexo de uma memória nostálgica?
Quando criança, aquela janela representava um obstáculo
Eu tentava incansavelmente escalá-la, tentativas muitas vezes inúteis, pois quase sempre caía sobre as almofadas verdes com forro de cetim.
Vovó adorava me ver brincar na sala, mesmo quando por inúmeras vezes eu quebrava a mesinha de centro... e quando eu levantava e batia a cabeça na janela, ela batia na janela e a dor passava, avó também faz mágica.
Já meu avó sempre dizia - desse daí menina, você vai cair - aí hoje eu digo "é vovô eu caí muito e não foi só da janela"
O tempo foi passando e o significado daquela janela foi mudando de cor (o significado, porque que eu me lembre a janela sempre foi verde).
Nas tardes da minha infância, descia a rua da Escola Dr. Aurelino com minha Caloi amarela correndo até a casa mais querida da cidade e então eu via diante daquela janela Vovô Otacílio sentado com seu livro - cada dia um diferente – então aquela janela deixou de ser a da traquinagem e passou a se chamar “Janela da Sabedoria”.
Pouco mais adiante, passei a ser a dona daquela janela, por obra do destino e aquele cantinho passou a ser o ponto de encontro de muitas tardes e noites entre amigos da adolescência.
Nos encontrávamos para estudar, contar piada, marcar as farras de final de semana e muitas vezes para comer a pipoca que Vovó Ota fazia com tanto amor.
Aos poucos cada um foi deixando sua marca registrada naquela janela, nomes, apelidos, corações, desenhos e frases foram escritas nela, coisas de adolescente. Quantas vezes fui acobertada por Vovó que a deixava aberta para que eu não fizesse barulho ao chegar e Vovô ouvir, coisas de Dona Otacília!
Essas janelas marcaram a minha vida e a de muita gente e eu a defino assim:
Janela aberta
Vovô e seus livros
Gente na porta
Alguém sobre ela
Vovó feliz 
Eu satisfeita de ter aquela janela
Hoje ao ir de passagem a minha cidade, dentro do ônibus passando pela Av. Juracy Magalhães me bate aquela saudade, os olhos ficam marejados, pois vejo ali, aquela janela verde que um dia foi tão movimentada e colorida, hoje tão solitária e apagada.



Gisele Leite, 2010